Eduarda,

terça-feira, 18 de novembro de 2014

não sei como começar uma carta pra você sendo que você nunca vai ler, mas existem tantas coisas que eu queria que você soubesse... Tantas coisas que eu queria ter a chance de dizer. Acho que escrevo agora pelo meu direito de resposta que foi negado pela vida e, infelizmente, por você; escrevo pra mim mesmo e não sei, definitivamente, o que fazer com essas palavras.
Não sei descrever isso que estou sentindo agora. Queria que você pudesse me ver. Eduarda, você deveria saber que eu nunca poderia ser capaz de te odiar. Nem quando você me disse aquelas coisas tão terríveis eu te odiei. As coisas só não fizeram sentido.
Eu queria passar a vida do seu lado, não entendi como isso podia ser tão assustador pra você. E agora tudo faz sentido. Fico triste em saber que não estive do seu lado por esse tempo, você foi sempre tão forte e tão teimosa. Sua força sempre foi algo que eu admirei. E sua teimosia algo que eu detestei, e é justamente isso o que me irrita agora.
Duda, você fez tudo errado, meu amor. Eu queria estar com você nessa hora. Teria vivido os cinco anos mais felizes se tivesse vivido com você. Eu nem sei dizer como minha vida poderia estar diferente agora... Eu não queria que você tivesse passado por isso tudo sozinha.
Eu preciso dizer que nunca acreditei naquelas coisas que você disse... Foi um dia miserável aquele que era o mais importante da minha vida. Eu me senti o homem mais idiota e vazio. Cheguei em casa naquele dia e tomei um porre. Passei o mês inteiro tentando encontrar justificativa pra tudo. Tentei te procurar tantas vezes e quando você só me deu silêncio como resposta, eu desisti. Tinha meu orgulho e achava que você realmente não me queria mais. Eu via nos seus olhos o quanto me amava, mas preferi acreditar no que sua boca me dizia.
Hoje vejo o quanto fui tolo. Mas o que fazer? Eu não tinha o direito de quebrar o teu silêncio e invadir o teu espaço. Por isso me calei.
Passei meses e até os anos seguintes considerando uma visita sua, e confesso que a visita da tua mãe me pegou de surpresa. Cinco anos se passaram e eu não esperava mais nada, menos ainda a visita da sua mãe. Foi só vê-la pra saber que algo estava mal. E tudo estava mal. Peguei os embrulhos dela que estava com os olhos vermelhos, dei um abraço e ela só pediu que eu lesse tudo e a procurasse no final.
Na mesma hora subi pro apartamento e abri a primeira carta, a que estava separada das demais. Só consegui ler ela. E a minha vida nunca mais foi a mesma depois dali. Precisei de um tempo pra conter a emoção de sentir teu cheiro, de reviver todos os dois anos em segundos. De aceitar teu fim tão trágico. E o meu recomeço, já que eu tinha um filho e nunca tinha sido pai.
Eu não sei dizer, Eduarda, como estava a minha vida. Eu a vivia da maneira que achava bem. Saía com os amigos, alguns relacionamentos, nada sério. Emprego, casa. Rotina. Meio vazia, mas confortável.
Sua carta me arrancou um pedaço, mas também me permitiu recomeçar.
Obrigada por mesmo tarde ter me respondido... Eu ainda não li as demais cartas, essas que você passou escrevendo sem me enviar. E não sei quando vou ler, mas pretendo demorar bastante, quero de alguma forma fazer esses momentos durarem. Eu nem sei se estou pronto pra isso.
Eu não estava pronto pra aceitar o seu fim, mas é assim que são as coisas, não é? A vida é assim.
Quando tive coragem de sair quando terminei de ler a carta, tomei um banho e fui atrás da sua mãe. Ajudei a ela com as coisas que precisavam ser resolvidas... Fiz as coisas meio que mecanicamente. Tive a ajuda do nosso amigo João. Não tinha cabeça pra nada.
Até quando as coisas são terríveis, você consegue me surpreender... No meio dessa tristeza toda, ter visto aqueles olhos do moleque... Samuel, você o chamou, como é lindo. Ele tem teus olhos e o meu sorriso. Como pode ele ser tão a nossa cara assim? Quero ser o melhor pai do mundo. Queria tanto que tu pudesse ver tudo isso, Duda. Queria tanto que tudo tivesse sido diferente...
As coisas estão tão novas agora. A minha vida não está vazia mais. Você faz falta, como sempre fez, mas parece que alguma coisa nos liga agora. E eu tenho certeza que vem do Samuel. Parece que você está aqui o tempo todo, Eduarda. E fique, por favor.

Existem coisas que não couberam aqui. O meu amor não cabe aqui. Eu queria te enviar uma carta pra contar cada detalhe do nosso filho, queria te descrever exatamente cada sentimento que tenho, cada pedaço de mim deseja você inteira, mas eu sei que agora, de onde você tá, com certeza não precisa de nenhuma descrição... Eu vou encerrar isso aqui.
Espero ser um bom pai e que você me aprove.
Eduarda... eu queria te dizer mais uma vez: eu te amo.

Com amor, 
Samuel.

em resposta à "Para Sempre Sua" http://anotherletterforyou.blogspot.com.br/2012/04/para-sempre-sua.html.

gratidão.

Quando você chegou, a poesia veio também. Você trouxe calor nos olhos e sorriso poético no canto dos lábios. Quando você chegou, as estações fizeram mais sentido. A graça transbordou.
Você chegou e me regou as flores que existiam aqui.
Você chegou. E tudo o mais me sorriu.

Há uma luz que nunca se apaga

domingo, 9 de novembro de 2014

Não sei como te chamar, não quero usar teu nome aqui porque eu nunca te chamei pelo teu nome. Em contrapartida já não me sinto íntima pra te chamar pelo apelido.
Uma das piores coisas em ver alguém partir é não saber quando esse alguém vai voltar e se ele vai voltar. Já ficou clichê sentir sua falta. Eu perdi as contas de quantas pessoas já me ouviram falar a seu respeito, mas nunca é suficiente. Eu falo de você como se em algum momento essa coisa aqui dentro fosse passar, mas nunca passa. Falo de você como se falar fosse te trazer de volta, mas nunca traz. Não vai trazer. Sabemos que essa é mais uma carta que você nem vai ler, mas como esse fiapo de esperança estúpida dentro de mim nunca morre, continuo a escrever.
Acontece que sempre me vejo tanto em você! É aquela coisa saudosista de dizer que você é a continuação do que eu sou ou vice-versa. Não tenho mais tempo pra saudosismo, eu sei. E você não tem mais paciência, eu sei. Sabemos. Essa é a última vez, prometo. (E provavelmente essa é uma daquelas promessas que vou quebrar sem nem protelar.)

Desculpa por ser tão clichê, mais uma vez. Sei que não gosta. Desculpa por não estar usando xadrez, eu sei o quanto você gosta. Desculpa por entupir os salgados de ketchup, sei que você olha com cara feia mesmo dizendo que "gosta de ketchup", você nunca coloca em nada e torce o nariz se colocarem no seu lanche!
Desculpa por nunca mais ter devolvido seu CD favorito. É que manter isso aqui é como manter parte sua comigo.
Nesse momento você deve estar tomando absinto português e vendo coisas que nem existem - ou talvez existam em uma outra dimensão -, isso se não estiver tocando baixo, o que também é provável. Mas se estiver bebendo, sei que exatamente daqui uma hora você vai sentir vontade de voar, vai chorar. Vai chorar muito. Eu me pergunto pra quem você liga agora quando chora. Me pergunto se encontrou outra pessoa pra segurar tua mão e voar sem direção. Desculpa por desejar tanto que você não tenha ninguém agora já que não está aqui comigo. Não aprendi a te dividir, não aprendi a deixar ir aquilo que nunca me pertenceu. É que aquele dia você me beijou e eu esqueci de todo o resto do mundo. Eu decorei os teus lábios. Céus! EU DECOREI OS TEUS LÁBIOS. Isso me faz sentir mais louca do que o comum. A diferença é que quando você estava aqui comigo, eu nunca era louca. Aquilo era convicto.

Quão patético é chorar ouvindo The Smiths e lembrar do seu abraço? Como me desfaço disso? Você me prometeu cinquenta anos de conversas intermináveis e hoje não responde nem a um "oi" meu.

Eu nem ia escrever essa carta. É que eu vi uma pessoa devorando um sanduíche naquela lanchonete que frequentávamos e era exatamente o seu jeito de mastigar as coisas. Era engraçado. Eu resolvi escrever isso porque me fizeram uma pergunta, eu fiquei tímida e mudei de assunto imediatamente. Eu fiz aquilo que você fazia de ficar um seis segundos em silêncio olhando pra baixo e mudar de assunto, ainda olhando pra baixo. Isso sempre foi coisa mais sua do que minha. Todas as minhas atitudes sempre foram mais suas do que minhas.

Sinto sua falta. Volta um dia, tá? Nem que seja pra me cobrar teu CD. Tô com saudade da sua voz.

Espero que esteja bem.
Com amor,
A menina da camiseta do prisma.

Onde as ondas quebram.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Quando eu te conheci estávamos bem perto da praia. O mais irônico da situação é que eu nunca tinha visto o mar, eu não fazia nem ideia de como nadar. Você me segurou pela mão e me mostrou a sensação nova de correr descalça na areia. Me mostrou o quão grande a praia é e, maior ainda, me mostrou o mar em sua forma mais majestosa. O grandioso rei mar. Tão grande que eu não podia ver seu fim, nunca vi, nunca consegui imaginar, muito menos quando sentia a sua mão junto à minha.
Pouco a pouco você foi me mostrando tudo o que eu nunca tinha visto.
A noite caiu, foi então a minha vez de te mostrar algo. Te apresentei cada uma das constelações no céu, dei seu nome àquela estrela que achei o brilho mais intenso. Nos beijamos e eu dormi nos seus braços.
Despertamos com o sol que nos tocou a pele antes que o sono fosse totalmente embora. Acordei com a cara de preguiça de sempre, sorri de canto ao ver seu cabelo também desajeitado, perdemos a noção do tempo quando vimos o belo astro sair das águas e cobrir por completo o céu com seu manto de luz. Vi seus olhos vidrados nos meus como quem queria dizer algo, entendi que já era hora de experimentar o mar. Novamente você me segurou e me levou até o início, onde as pequenas ondas se quebram. Senti aquela imensidão líquida aos poucos me empurrar de volta pra areia, as vezes me levava pra ele. Tive medo e te olhei. Vi a naturalidade com a qual você encarava tudo aquilo.
As pessoas começaram a entrar em pequenos barcos porque os ventos estavam favoráveis para um passeio. Você me colocou dentro de um barco. Remamos até certo ponto. Eu nem sabia remar! Lembra disso? Foi você quem me ensinou. Remamos incansavelmente... Então você disse que já era hora de eu aprender a remar sozinha. Te vi pular nas águas que ainda me apavoravam, você nadou até o cais e ficou ao longe me observando. Não tive tempo de te dizer nada, não consegui questionar, não pude pular na água porque eu nunca soube nadar. EU NUNCA SOUBE NADAR E... CÉUS! O QUE TE DEU NA CABEÇA PRA DEIXAR UMA PESSOA QUE NÃO SABE NADAR SOZINHA EM UM BARCO QUE NINGUÉM SABE PRA ONDE VAI?
Meu coração disparou, depois apertou, em seguida chorei feito uma criança que se perde dos pais. Eu te via o tempo todo, mas você já não podia me ouvir. Eu te chamava, mas você nunca escutava. Eu queria que você voltasse, mas eu nunca soube bem o que fazer.
Enquanto o desespero me consumia, peguei os remos e lembrei. Lembrei de tudo o que aprendi na minha viagem com você. Lembrei como remar, como voltar pra praia. Lembrei de cada milésimo que me levara até ali.
Hoje estou sentada no cais observando o mar e observá-lo me faz lembrar de tudo o que tentei esquecer. E tudo o que tentei esquecer, foi o que me salvou de me afogar em mim. Todos os meus medos se tornaram barcos à deriva, nada além.
Eu fico aqui olhando a mesma paisagem esperando você aparecer subitamente, tapar meus olhos e sussurrar no meu ouvido: "adivinha quem é?"

Carmélia,

sábado, 11 de outubro de 2014

vá embora.
Não sinta saudade, não olhe para trás, não cozinhe para mim. Acorda, mulher, vá cuidar de você. Nunca cuidei de você, por que você cuidou de mim? Porque lavar, passar e cozinhar pra um homem como eu? Eu nunca pedi isso, mulher. Vai embora. Você não precisa de mim.
O que eu te dei que você não possa conseguir?
Meio tostão furado, uma casa qualquer, algum cartão de crédito. Na verdade, é tudo teu.
Recupere teu trabalho, por que fechou a loja? Você gostava tanto.
Eu nem gosto mais de você. 
Gostava daquela garota apaixonada pelos doces que fazia, encantada com as pessoas diferentes que frequentavam aquela loja em que eu também frequentei. Me prendi nos olhos da moça, gostei tanto tanto tanto dela que a quis pra mim.
Te conquistei com três cafés. Palavras apaixonadas e passeio de mãos dadas.
Queria ela só pra mim. E tive.
Mas ela foi embora com o tempo. Acho que matei minha Carmélia quando quis que ela fosse mais minha do que dela. Morreu a minha garota. 
Se foi o brilho nos olhos da moça, nem mais doce e nem mais graça nas pessoas.
Roupa lavada, casa limpinha. Poucos amigos porque é só minha a minha garotinha.
Perdeu a vontade de ir aos lugares, perdeu a curiosidade que eu admirava. 
Vá embora, mulher. Fui um assassino. Assassino de você.
Retome tua vida, pelo amor de deus, me deixa. Case-se consigo, mulher, e cuida mais de ti do que cuidou de mim.



com (pseudo)amor, 
o seu bem querer,
arrependido por assassinato de você;
João.

À dona da estrela mais bonita

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Amor, eu tinha parado de comer creme dental, esqueci de te contar. Eu só estou contando agora porque encontrei a mochila que levei e trouxe da tua casa. Abri depois de muito tempo e achei aquele gel dental vermelho que levei da ultima vez que fui pra tua casa. Abrir a mochila doeu, me fez sorrir, tudo ao mesmo tempo. Estou dividida entre deixá-la aqui no meu quarto ou jogá-la no sotão. Sinto a mesma coisa em relação a nós. Não sei se deixo o que eu sinto por você permanecer aqui, ou se devo jogar no meu sotão emocional. Você também deve sentir isso as vezes...
Dentro da mochila encontrei alguns itens com um leve cheiro de cigarro da época que eu fumava com mais frequêcia. Também tive que parar com isso. Tinha aquela cartinha que você fez pra mim, onde desenhou o Bart e uma rosa. Eu pressionei a tua carta contra os lábios como se isso fosse o beijo de boa noite ausente pela distância. Uma lágrima caiu. Várias lágrimas seguiram caindo. Tentei puxar o ar pra dentro dos pulmões, abracei a mochila e deitei no colchão.
Eu sempre tive o meu jeito peculiar de viver. Por vingança, por auto-fuga, pelo que fosse. Talvez por ter nascido como sou. E depois de tudo, depois que eu sou apenas eu, sem um "você" presente pra completar, a minha vida é mais bagunçada que meu quarto e olha que você sabe o quanto o meu quarto é bagunçado! Eu lembro de você meio que me obrigando a arrumar esse quarto. Eu lembro dos banhos longos, eu lembro do cabelo bagunçado ao acordar, eu lembro da troca de carinho antes de dormir toda noite. Eu lembro do quanto odiamos o natal e do quanto me embriaguei no ultimo natal. Eu fecho os olhos e consigo mentalmente desenhar cada linha do seu rosto. Eu fecho os olhos e consigo sentir a textura do seu toque. Eu consigo sentir o seu jeito de abraçar, sinto a temperatura do teu corpo. Eu sinto você. E outra lágrima cai. Será que você, de uns tempos pra cá, sentiu-se assim também?
Eu sempre mudo o lado que ando na calçada, mania que você colocou em mim. Eu nunca mais tomei outro refrigerante que não fosse Sprite na rodinha de amigos. Eu tenho amigos agora, eu conheço mais gente do que eu conhecia e já aprontei mais do que aprontava, mas quando lembro dos sonhos da nossa casa, do nosso cachorrinho e de tudo... Você deve saber como meu rosto está agora.
Eu olho pro céu e vejo a sua estrela, desde que nos desentendemos, passei apenas a dizer "boa noite" a ela. Eu lembro do dia do parque, nunca mais voltei lá. E não voltei porque eu sei que vou lembrar de você me abraçando e me dizendo pra sorrir pro video que você estava gravando e eu sei que saudade será pouco pra nomear o que vai explodir no meu peito.
E lembrando de tudo isso... Eu queria saber, você tem acordado a noite e sentido a minha falta no meu lado da cama também? Porque se eu ainda tiver um lado na sua cama, nós ainda somos nós.
Amor, eu sempre fui um poço de medo e dor mas te ver sorrir quando você fica com vergonha sempre me fez superar tudo o que se colocava contra o que eu sentia.
Essa carta não é um pedido para que você fique porque eu só quero que você esteja aqui se você realmente quiser estar. É só um jeito de dizer que de alguma forma, eu acho que nunca deixei de te pertencer.

Respingo

sábado, 13 de setembro de 2014

Peço gentilmente que leia com atenção porque não sei se continuarei a lhe dedicar cartas.
Aviso previamente que estou aleatória, creio que meu relógio interno esteja totalmente desordenado a ponto de me tirar qualquer discernimento cronológico.

Eu passei essa madrugada marcando mentalmente as cores do céu de hora em hora até que ficasse claro. Eu tentei tomar café - inevitavelmente lembrei do seu repúdio por café - mas meu estômago não permitiu. Os comprimidos acabaram. Ocasionalmente, algumas pessoas apareciam na rua. Até a que aparentou ser mais inofensiva não me inspirou confiança, nem mesmo disposição a tentar confiar. A lembrança das suas palavras vieram e me deixaram tonta. O ambiente à minha frente ficou escuro, turvo, a luz derretia em cascata. Eu estava vivendo em plena consciência a sensação de enlouquecer. Minha pele queimava. Respirar fazia meu peito arder desgraçadamente. É assim que me sinto desde que... Você sabe. Você sabe de tudo, sabe o que fez comigo quando fez o que fez com você. Sabe no que me transformou, sabe que me lançou no inferno e me fez beijar lúcifer enquanto o mesmo transformava-se em satanás, sabe que me fez dormir no paraíso e acordar fora do meu corpo vendo-o em pedaços, sangrando. Eu acho que te perdoei, acredite. Só não queira que eu corra atrás de você feito um cãozinho que busca por uma fatia de carne. Não espere que eu te procure, que eu pergunte como está, que eu faça questão de narrar a você cada passo do meu dia porque eu não vou. Não vou. Venha você, se quiser. Se ainda importar, porque eu não acredito verdadeiramente que importe. Há tempos não importa. Há tempos é só média, é só para que eu não possa dizer que você "não tentou". Mas não tentou. Não tenta, poderia, mas não. Que seja. Odeio o quanto ainda sinto a sua falta. Odeio essa minha bipolaridade emocional extrema de precisar de você, sofrer por não estar presente na tua vida e paralelo a isso, não suportar a ideia de te procurar. Essa carta é parte do que ainda respinga dentro de mim, é parte daquilo que eu não posso explicar. Daquilo que não sai. Do motivo da minha febre constante e dos meus pesadelos infinitos. 
Se ainda quer saber algo sobre mim, posso adiantar que os meus dias não passam. Sinto-me imortal, dessa vez não é bom. A eternidade toda de sofrimento cabe dentro de um único dia e quando esse acaba, vem outro. E outro. E outro.
O tic-tac do relógio continua. Os sabiás já cantam lá fora. O silêncio da casa ainda é o mesmo e as luzes da rua continuam adentrando a janela.
Você não está aqui, não está em mim, você foi embora.
E aqui dentro, chove.

Sweetheart, what have you done to us?

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Você sabe quais são meus livros favoritos. Você sabe quais músicas eu gosto, sabe quem são as pessoas que não suporto, sabe das minhas manias mais estranhas, sabe dos meus distúrbios do sono. Sabe que as vezes falo dormindo. Sabe que tomo chá com remédio pra me acalmar. Sabe qual refrigerante eu não tomo em hipótese alguma.
Você conhece as minhas dores, os meus traumas, as feridas mais profundas, te mostrei cada uma delas. Te deixei tocar minhas cicatrizes e ver que são reais. Você sabe da minha fraqueza, sabe que não é tão difícil me fazer chorar, sabe o quão extrema é a vida pra mim.
Você foi por tantas vezes o motivo das minhas madrugadas insones e tantas outras, a cura pra elas.
Você foi o meu vício, a minha salvação. O meu chão, você foi a pessoa que me levou o mais perto do céu que eu poderia conhecer.
Você foi.
Você.
Você costumava ser aquele riso exagerado depois de uma noite inteira de choro. O meu sol por trás das nuvens depois da tempestade. O meu nirvana em meio a tanta confusão mental. Conheceu o meu corpo, o cobriu e descobriu, me despiu, me roubou para si, te pertenci como se tivesses me acorrentado e ainda assim, fui livre. 
De todos os sorrisos, você era o mais verdadeiro.
De todas as lágrimas, a mais triste.
"De todas as canções, a favorita."
De todos os discos, aquele que eu não canso de ouvir.
De todos os poemas, o mais bonito.
De todos livros, o mais louco e profundo.
De todas as loucuras, a mais sã.
E querendo ou não, feliz ou infelizmente, você ainda tem a maior parte de mim.

a carta que não sei escrever.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Estou há horas rabiscando palavras em uma folha em branco. Na medida em que as palavras surgem, as folhas somem. Porque não tenho nada que apague o que a caneta escreveu na folha em branco, assim como nada retira as marcas que tenho, nem desfaz os caminhos que a vida tomou.
Eu poderia riscar as palavras e continuar escrevendo, as árvores agradeceriam. Eu poderia escrever esta carta em um computador. Eu poderia simplesmente não escrever. Mas não, nada disso. Aqui estou insistentemente diante de uma janela fechada, lateral, no meu quarto de dormir; com uma caneca de café pra tentar me impedir de pegar no sono enquanto não termine de escrever.
Eu fiz uma promessa e só depois de prometer eu descobri o quanto é difícil manter a palavra. Mas não foi pra isso que comecei a escrever. Inicialmente eu queria falar sobre os dias de sol que tenho tido, sobre as tardes banhada no rio, sobre as noites olhando o céu estrelado no jardim que eu não tenho. Mas é, não tenho o jardim, nem o rio, nem os dias de sol.
Aqui tem feito frio e frio. Só frio. O dia é repleto de nuvem e as noites também. No trabalho (estou trabalhando!) as pessoas dizem que eu cheguei e trouxe o frio, e eu que pensei que gostaria disso, estou odiando.
Não sei se é pela falta de calor humano que eu nunca soube que gostava, ou se pela falta de felicidade na escolha que fiz. Eu achei que não sentiria saudades de casa, mas eu sinto saudade até dos meus vizinhos barulhentos.
Tá, isso é exagero e mentira. Eu sou dramática. Ainda sou dramática. Eu vim embora sem dó e nem piedade, com algum dinheiro que economizei por algum tempo. Larguei tanta coisa aí, que eu nem sei. Pior que eu nem queria vir, mas também não queria ficar aí e quando vi que existia a chance de sobreviver, não pensei duas vezes e aqui estou.
Eu deveria ter pensado melhor. A gente não deveria sobreviver apenas. Viver é bom, você sempre me dizia, mas como me afastei, não ouço mais isso e ninguém me faz acreditar que existe sol atrás dessas nuvens. Como dizia você, eu tenho muito que aprender.
Tenho recebido as cartas. Desculpa não responder. Ou não desculpe, eu não tenho certeza se me arrependo. Eu não sei o que dizer... Pra você ter ideia, estou aqui escrevendo e acho que estou falando demais e dizendo nada. Mas pelo menos você fica sabendo o que quer: eu estou bem.
Consegui um trabalho numa editora aqui perto (que ironia: eu numa editora). Fico levando papéis pra todo lado, pegando café, fazendo café. Nada interessante e também não tem o glamour dos filmes onde a mulher acorda atrasada, linda, corre e toma seu café na rua e chega no trabalho toda linda em seu salto alto. Eu tomo meu café em casa, porque o meu gasto inconsequente de dinheiro, como você tanto disse que iria me ferrar, me ferrou. Meu dinheiro começou a acabar, comecei a falir em terra estrangeira. Procurei trabalho e agora economizo. Pelo menos o dinheiro serve pra comprar uns congelados que estoco e pagar o aluguel.
A casa é pequena, seguem fotos como você havia pedido também. Não tem espaço aqui pra você.
Mentira, tem sim. Mas você é sábio e não vai largar tudo como eu fiz.
OK, desculpa. Fugi a carta inteira do meu objetivo. Eu não sabia ao certo que tinha um, mas agora eu percebi que estou fugindo. Eu já rabisquei sobre isso nas outras folhas... Sabe aquele assunto que você acha que precisa falar? Se estivéssemos perto um do outro eu veria nos seus olhos que não precisava falar nada, que você entendia, leria suas expressões e você as minhas. Mas estamos distantes. Distantes mesmo e não só fisicamente. Eu fiz questão de me afastar de você e de todos daí. Porque achei que assim me afastaria do meu maior problema: eu.
Achei que pegando aquele avião e descendo em terra desconhecida eu iria me tornar desconhecida de mim. Me enganei. E só agora no final dessa carta eu estou conseguindo realmente encontrar palavras pra dizer. Eu estou um pouco bem, sim, consigo viver os dias e valeu a pena ter vindo pra cá. Eu aprendi com isso que na vida é tudo ou nada. Você costumava dizer que eu era desequilibrada. Talvez esteja mais, mas se te consola, não me sujo com apenas um cigarro.
Não sei como finalizar essa carta. Não sei o que te dizer... Desculpa não ligar, não responder, não falar com ninguém, com nenhum de vocês.
Às vezes eu ligo para os meus pais. Eles disseram que meu irmão irá se formar. Você vai, né? Ele ficaria muito feliz. Você não é só meu amigo. E não precisa arrumar a minha bagunça.
Manda um beijo para a Camila, um abraço no João. Ah, e o Victor. Ah, Victor... O que dizer sobre ele? Não sei. Cole chiclete no cabelo de todas as namoradas que ele arrumar, por favor. Eu ainda amo vocês. E ainda odeio as namoradas do Victor (óbvio!).
E a você que me escreve com tanta frequência, sem desistir de mim: não desespere. Você tem a minha gratidão e o meu coração. 

Estou aqui desligada de mim, aprendendo alguma coisa, fugindo da vida.
Mas eu volto e arrumo a bagunça que fiz, não me esperem.

Com carinho, 
Marcela.

à querida e saudosa.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

   A quem endereçar a carta que meu coração deseja escrever ao destinatário ausente? Como verbalizar o experimentado pelos caminhos que tenho trilhado sendo que o ideal era que tu pudesses ver e não ouvir dizer?
   Hoje foi um dia de sol e bastante quente, mas é inverno. Quando as manhãs são cinzentas e não podemos ver a luz, sei que em algum lugar o sol se esconde e que pode aparecer a qualquer momento. O que não me impede de aproveitar os dias nublados.
   Os dias têm sempre algo a nos ensinar. Nem sempre quando o dia é de sol, ele é bom. E eu prefiro as nuvens, mas reconheço a beleza de um céu limpinho e azul.
   A previsão do tempo nem sempre acerta. A natureza faz a sua própria escolha de acordo com o que tem que ser, porque não cai nenhuma folha, de nenhuma árvore sequer, em vão. O que me remete a você.
   Para tudo há um tempo determinado debaixo do sol. Não contexto e não quero controlar o tempo. Apenas penso sobre a efemeridade dessa vida. Sobre você eu não digo ter sido tempo demais (e nunca foi!) ou pouco tempo, tempo suficiente ou insuficiente. Foi um tempo feliz, o que tivemos.
  Ouvi dizer que saudade era o nosso coração dizendo para onde quer voltar, e nem sempre é. Como eu poderia voltar para onde nunca estive? Não que o passado feliz não seja visitado e desejado. Se fosse possível, eu voltaria no tempo apenas para te observar.
   Mas hoje sinto a saudade do que eu nunca vi. Eu que acredito que coisas boas estão por vir, visualizo você sentada em uma plateia de um espetáculo que comigo sonhou, um espetáculo que ainda está por vir, e eu gostaria que você estivesse aqui.
   Sobre o passado, amor. Sobre o futuro, esperança. Eternamente, gratidão.
   A vida é efêmera, sim, mas o amor é eterno.

Psicose

terça-feira, 13 de maio de 2014

Chá de camomila. Pode soar estranho, mas é a minha maior nostalgia. Meus silêncios e gritos acabavam sempre em uma xícara de chá de camomila.
Tomava o chá aos poucos observando a fumaça que saía da xícara pelo líquido que ainda era extremamente quente. Espiei a rua pela janela, havia névoa e garoa. Peguei um cigarro. O frio era de sacudir os ossos. Tudo aquilo parecia exatamente parte de mim. Não importa o quanto aquele clima me fazia tossir, o frio era confortável. A bebida era confortável, tudo se encaixava ao que sou.

Por um instante questionei minha existência. Questionei como duas personalidades totalmente distintas podiam dividir o mesmo corpo. As vezes meu coração era tão quente quanto o que chá queimava a minha boca a cada gole. Entretanto minhas atitudes eram como a garoa fina e gelada lá fora. Incômoda, quase imprevisível, indiferente.
Apoiei-me na janela para fumar. Tossi. Maldito hábito. Era sinal de que meus pulmões já não eram os mesmos. Vinte e cinco anos e meu organismo já era mais estragado do que o dos meus avós.

Pensei em meus avós. Como eles reagiriam se soubessem quem eu realmente sou? Como agiram se soubessem que a neta pós-graduada e com pinta de boa moça, no fundo era uma bandida que nunca se importara cima nada?
Lembrei do meu último crime. A vítima não conseguia fechar os olhos, eu havia feito cortes que o impossibilitavam de fechar os olhos. Era um cômodo totalmente espelhado, ele assistiu passo a passo de sua tortura e viu a morte caminhar lentamente em sua direção. Traguei o cigarro, segurei a fumaça nos pulmões e soltei devagar. Antes que a culpa tentasse invadir minha mente, lembrei que aquele homem havia abusado de mais garotas que posso contar. Cortei seu membro principal, sua "ferramenta de trabalho" aos poucos para que ele tivesse tempo de sentir o que fizera. De sentir como é estar vivo e se ver morrendo aos poucos sem conseguir fazer nada. Talvez daquela forma ele compreendesse quantas pessoas ele havia matado embora os corações ainda batessem, o resto tinha morrido. Fui uma delas. Não achei nada mais justo do que mante-lo preso sentindo cada gota de seu sangue escorrer.
Outro gole de chá. Lembrei então do golpe que eu havia dado no restaurante mais caro da cidade. Lembrança que me fez abrir um sorriso sarcastico. Se não fosse pela mente que tenho, seria feliz. Eu acho. O que é ser feliz? Deve ser coisa de gente normal. E definitivamente, eu nunca fui.
Busquei naquele chá a calmaria que minha cabeça buscava. O tão precioso silêncio mental. Monstros descansam? Eu espero que sim.

E sem perceber, dormi deixando a carta sem conclusão, como tudo o que faço: só tem sentido pra mim.

Requiém de uma tempestade

domingo, 30 de março de 2014

Abri os olhos antes das nove da manhã. Não era o horário que eu acordava frequentemente, mas o sono simplesmente desapareceu. Perdi alguns minutos do meu tempo enrolada nos edredons observando as cores do meu céu. Há tempos meu universo era aquele quarto onde quase tudo era branco e marfim. Sentei na poltrona próxima à janela, abri as persianas, vi que o sol bradava lá fora. Haviam crianças brincando na pracinha em frente ao prédio. Invejei-as. Senti falta de quando a vida ainda tinha sabor de algodão-doce. Senti falta de quando eu ainda conseguia sentir conforto ao ser aquecida pela luz do dia ou deitar na grama dando forma às nuvens no céu.
Eram memórias distantes. Tudo o que eu passei a conhecer era sobre solidão. Descobri que a dor tinha som. Som de choro. Som de chuva. Som de música instrumental, quase como Clair De Lune. Em seus casos mais extremos, eu também poderia dizer que o som da dor se parecia com "Moonlight Sonata" de Beethoven. A tristeza tinha o mistério e profundidade da obra "The Crow" de Van Gogh. Que talvez, sofrer também fosse uma arte das mais masoquistas e sádicas ao mesmo tempo. Descobri que o poeta vive de sua angustia, dela vende e dela mantém-se vivo. E que bela ironia manter-se vivo quando tudo de mais humano em você já morreu! Artistas não fazem sentido tal como nada conhecido na existência faz sentido.
Que é o amor se não as flores jogadas sobre o túmulo de quem já desistiu de si próprio? Que é o amor, se não o último floco de neve quando o inverno acaba? Que é o amor, se não apenas um rastro de esperança mal guardada?
A vida é líquida e corre por entre os vãos dos dedos sem que ninguém perceba.
"Luz! Luz! Mais luz!" e de Goethe, faço essas também minhas palavras. Embora o quarto fosse claro, todo acúmulo de sentimentos me cegava. "Luz", gritava o espírito de Goethe assim como meu espírito grita. Mais luz.

Sinfonia silenciosa

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Aquela noite provavelmente fora a melhor e mais bonita desde que nos conhecíamos por gente. Eu devo ter dito que a amava umas cinquenta e cinco vezes em menos de uma hora. Em cada gesto, a cada toque, eu só queria mostrar o quanto a amava. Eu quis dar a ela o dia mais perfeito do mundo - levando em consideração que ela sempre dizia que a perfeição é utópica - a levei para tomar sorvete em seu parque favorito. Deitamos na grama úmida e sentimos o cheiro da chuva, da terra, da vida. Ela costumava dizer que a vida tem cheiro, sabor e cor. Era a minha maluca. Eu lembro de quando a via chorar, todos os dias. Seus olhos pareciam o céu quando anuncia tempestade, me paralisavam, me encantavam, me prendiam mesmo me fazendo querer fugir. Ela me tinha em suas mãos. Quando ela se esvaía em lágrimas, minha vontade era tirar toda aquela dor de sua alma. Sugar até a última gota de sofrimento. Ah, se eu pudesse contar quantas vezes já quis morrer para não vê-la daquela forma! Tentamos tudo o que era possível. Ela tentou, eu sei que tentou ficar bem. Sua depressão era crônica e tudo e seu único sonhou passou a ser morrer. Ela me dizia que estava bem, sorria, mas eu sabia que era mentira. Eu sabia que por trás daquele sorriso, haviam cicatrizes. Eu sabia que ela ainda lamentava existir. Eu sentia o choro preso em sua risada descontrolada, parecia querer explodir e eu torcia pra que isso acontecesse, porque no fundo eu acreditava que se ela colocasse pra fora, tudo melhoraria.


Eu errei.

A dor nunca mudou, ela aprendeu a esconder cada vez melhor, apenas. Era a minha atriz favorita, embora eu odiasse seu personagem. Eu odiava aquela forma como ela lidava com a vida, como se gostasse das coisas, como se entendesse de tudo, como se tivesse o controle daquilo que diariamente a surrava e deixava-a quebrada sangrando em um canto do quarto. Odiei tanto sua dor que decidi acabar com ela. Chamei-a para sair a noite, depois do parque. Tomamos o drink favorito dela: Blue sky. Sky. Céu. Supostamente, sua futura casa. Sempre achei que ela tinha vocação pra anjo, que de alguma forma ela não pertencia a esse lugar. Esse mundo é desgraçado demais pra ela, que mesmo cheia de marra, por dentro é uma menina que acorda todas as manhãs com o entusiasmo da criança que saboreia um algodão-doce enquanto desce o escorregador, e vai dormir todas as noites com as marcas de quem foi chicoteado até que não aguentasse mais. Com a desesperança de quem viu tudo ir embora.
Naquela noite, ela iria embora.
 Levei-a para casa. Entreguei-me completamente. Fiz promessas, ela amava promessas, ela amava sonhar. Ela amava a ideia de talvez existir um "talvez". Ela amava tudo que a tirava daqui. Ao escrever essa carta, lembro de seus dedos me tocarem o rosto, os lábios, lembro de seus olhos pairarem sobre mim com um olhar infantil enquanto ela dizia: "você é a única coisa me manter viva, se não fosse por você, eu gostaria de partir, não sei lidar com mais nada." Limpei a lágrima que ousou cair. Segurei o choro. Beijei seus lábios de uma forma tão eterna que eu não poderia lhe dizer por quantos minutos aquele beijo se estendeu. Eu não seria mais o motivo dela de continuar suportando tanta dor. Ela merecia descanso. E dormiu em meus braços. Ao dormir, toquei seu rosto com ternura, ela suspirou pela última vez quando pressionei um travesseiro contra seu rosto. Os instintos humanos de sobrevivência a fizeram se debater um pouco enquanto eu chorava dizendo que a amava, ela perdeu o fôlego e serenamente partiu. Abracei seu corpo ainda aquecido enquanto minhas lágrimas se espalhavam por toda aquela matéria que agora era sem vida. A dor veio junto do alívio de salvar a minha pequena de tanto desespero. Só eu sabia pelo que ela passava.
 Hoje não há um único dia no qual eu não me lembre dela. Todos os instantes, seus conselhos, críticas e filosofias malucas se fazem presente.

Ainda me questiono se ela foi real, ou se foi sonho.
Todavia, não conheço outra coisa sobre o amor além de tudo o que ela me mostrou. Dessa forma construí o nosso "pra sempre": na morte.

Sede de você

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ei, sweetie, provavelmente eu nunca te disse nada disso, mas o seu beijo é entorpecente. Cada vez que lembro o som da sua voz sussurrando ao meu ouvido, sinto meu corpo queimar. Seus olhos me incendiavam e você sempre soube a forma exata de me derrubar só com um olhar. Você sabe como me desmanchar e me ter em suas mãos, sabe me fazer derreter e escorrer entre seus dedos. Conhece as minhas fraquezas, cada uma delas, cada detalhe, cada linha, cada ponto, você conhece. Em você eu me encontro e depois me perco insanamente. A lembrança do seu cheiro me enlouquece. Seu sabor. Como sinto falta de me saciar com o teu sabor! Como sinto falta de sentir a minha pele junto a tua pele e nossas respirações fora de ritmo, nossos corpos fora de controle. Nós, em êxtase.
 Há noites nas quais não durmo, pensando em você. aspirando cada memória, vivendo delas. Vivendo de vontades e sede de você. Se soubesses o quanto desejo beijar os seus lábios, subir sutilmente até o seu umbigo e enquanto minhas mãos descobrem o teu corpo, doce e ardente, beijo sua boca. Te gravo em mim. Me gravo em você. Nos amamos como ninguém nessa terra saberia amar alguém. Nos conhecemos em tudo. Você é o meu oásis em meio ao deserto e as vezes nem sei se é real ou apenas miragem. Sempre que meus olhos se fecham, você retorna e me tem. Cada parte de mim, cada pedacinho te pertence.
Eu sinto falta da delicadeza do teu toque, amor. Sinto falta do teu sorriso que tem o dom de roubar meu coração, minha mente e tudo que há em mim. Nunca pertenci a alguém da forma que pertenço a você. Nunca desejei alguém com a mesma euforia que desejo você. Nossas almas se conectam e fazem amor enquanto estamos distantes. Não há tempo, saudade ou quilômetros. Não há nada. Só "nós" existimos. Nosso mundo somos nós quem construímos.

 Essa é a minha maneira desesperada de dizer que eu te amo, com todos os meus deslizes, quedas e feridas que lhe causo... eu te amo.

Confusão

domingo, 5 de janeiro de 2014

Olá, como estas?

Talvez essa seja minha última carta
. Hoje o dia foi estranho, as nuvens não sairam do céu e a chuva caiu sem parar. Pensei em você vendo os pingos refletivos na janela imaginei o que estaria fazendo pensei em te ligar, mas estou sem créditos. Claro que eu podia ir até a padaria na esquina e fazer a recarga, mas... deixa assim por enquanto. Enquanto escrevo essas linhas bebi uma garrafa de vinho vagabundo afim de saber como estas. Não fiz minhas resoluções de ano novo por considerar isso um costume um tanto quanto idiota, vou fazer o quê tiver que fazer e pronto. O resto decido no caminho.

Pensar nisso me fez sorrir de canto.Sei que também não gostava muito dessas coisas de planos de ano novo né? Pois é, a única coisa que resolvi pra mim nesse ano é que vou sair e correr mais atrás do que eu realmente quero e pronto. Aposto que pensou o mesmo, viu como eu ainda te conheço o suficiente? E acho que sabe que eu não tenho bem um motivo pra lhe mandar uma carta, já falamos o que tinhamos que falar. Queria entender às vezes porque, quando o assunto é coração, as coisas parecem tão lentas (ou tão rápidas) pra passar. Bem dizem que o tempo é um santo remédio. Acho que essa resposta ninguem nunca vai saber não é? A verdade é que, todo o amor que eu tinha, tenho, merda, não sei, eu... ah, você sabe, acabou se acomodando aqui dentro. Tudo se tranquilizou. Aquelas ondas que vinham pararam, vez por outra vem uma onda de ficar olhando as nuvens. Mas são só lembranças. Vez por outra as estrelas lembram as velhas mensagens nossas. Aposto que faz o mesmo até hoje.

Cuide-se, se precisar, sabe onde me encontrar. Te amo, muito e tanto.

Eu.