Sinfonia silenciosa

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Aquela noite provavelmente fora a melhor e mais bonita desde que nos conhecíamos por gente. Eu devo ter dito que a amava umas cinquenta e cinco vezes em menos de uma hora. Em cada gesto, a cada toque, eu só queria mostrar o quanto a amava. Eu quis dar a ela o dia mais perfeito do mundo - levando em consideração que ela sempre dizia que a perfeição é utópica - a levei para tomar sorvete em seu parque favorito. Deitamos na grama úmida e sentimos o cheiro da chuva, da terra, da vida. Ela costumava dizer que a vida tem cheiro, sabor e cor. Era a minha maluca. Eu lembro de quando a via chorar, todos os dias. Seus olhos pareciam o céu quando anuncia tempestade, me paralisavam, me encantavam, me prendiam mesmo me fazendo querer fugir. Ela me tinha em suas mãos. Quando ela se esvaía em lágrimas, minha vontade era tirar toda aquela dor de sua alma. Sugar até a última gota de sofrimento. Ah, se eu pudesse contar quantas vezes já quis morrer para não vê-la daquela forma! Tentamos tudo o que era possível. Ela tentou, eu sei que tentou ficar bem. Sua depressão era crônica e tudo e seu único sonhou passou a ser morrer. Ela me dizia que estava bem, sorria, mas eu sabia que era mentira. Eu sabia que por trás daquele sorriso, haviam cicatrizes. Eu sabia que ela ainda lamentava existir. Eu sentia o choro preso em sua risada descontrolada, parecia querer explodir e eu torcia pra que isso acontecesse, porque no fundo eu acreditava que se ela colocasse pra fora, tudo melhoraria.


Eu errei.

A dor nunca mudou, ela aprendeu a esconder cada vez melhor, apenas. Era a minha atriz favorita, embora eu odiasse seu personagem. Eu odiava aquela forma como ela lidava com a vida, como se gostasse das coisas, como se entendesse de tudo, como se tivesse o controle daquilo que diariamente a surrava e deixava-a quebrada sangrando em um canto do quarto. Odiei tanto sua dor que decidi acabar com ela. Chamei-a para sair a noite, depois do parque. Tomamos o drink favorito dela: Blue sky. Sky. Céu. Supostamente, sua futura casa. Sempre achei que ela tinha vocação pra anjo, que de alguma forma ela não pertencia a esse lugar. Esse mundo é desgraçado demais pra ela, que mesmo cheia de marra, por dentro é uma menina que acorda todas as manhãs com o entusiasmo da criança que saboreia um algodão-doce enquanto desce o escorregador, e vai dormir todas as noites com as marcas de quem foi chicoteado até que não aguentasse mais. Com a desesperança de quem viu tudo ir embora.
Naquela noite, ela iria embora.
 Levei-a para casa. Entreguei-me completamente. Fiz promessas, ela amava promessas, ela amava sonhar. Ela amava a ideia de talvez existir um "talvez". Ela amava tudo que a tirava daqui. Ao escrever essa carta, lembro de seus dedos me tocarem o rosto, os lábios, lembro de seus olhos pairarem sobre mim com um olhar infantil enquanto ela dizia: "você é a única coisa me manter viva, se não fosse por você, eu gostaria de partir, não sei lidar com mais nada." Limpei a lágrima que ousou cair. Segurei o choro. Beijei seus lábios de uma forma tão eterna que eu não poderia lhe dizer por quantos minutos aquele beijo se estendeu. Eu não seria mais o motivo dela de continuar suportando tanta dor. Ela merecia descanso. E dormiu em meus braços. Ao dormir, toquei seu rosto com ternura, ela suspirou pela última vez quando pressionei um travesseiro contra seu rosto. Os instintos humanos de sobrevivência a fizeram se debater um pouco enquanto eu chorava dizendo que a amava, ela perdeu o fôlego e serenamente partiu. Abracei seu corpo ainda aquecido enquanto minhas lágrimas se espalhavam por toda aquela matéria que agora era sem vida. A dor veio junto do alívio de salvar a minha pequena de tanto desespero. Só eu sabia pelo que ela passava.
 Hoje não há um único dia no qual eu não me lembre dela. Todos os instantes, seus conselhos, críticas e filosofias malucas se fazem presente.

Ainda me questiono se ela foi real, ou se foi sonho.
Todavia, não conheço outra coisa sobre o amor além de tudo o que ela me mostrou. Dessa forma construí o nosso "pra sempre": na morte.

Sede de você

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ei, sweetie, provavelmente eu nunca te disse nada disso, mas o seu beijo é entorpecente. Cada vez que lembro o som da sua voz sussurrando ao meu ouvido, sinto meu corpo queimar. Seus olhos me incendiavam e você sempre soube a forma exata de me derrubar só com um olhar. Você sabe como me desmanchar e me ter em suas mãos, sabe me fazer derreter e escorrer entre seus dedos. Conhece as minhas fraquezas, cada uma delas, cada detalhe, cada linha, cada ponto, você conhece. Em você eu me encontro e depois me perco insanamente. A lembrança do seu cheiro me enlouquece. Seu sabor. Como sinto falta de me saciar com o teu sabor! Como sinto falta de sentir a minha pele junto a tua pele e nossas respirações fora de ritmo, nossos corpos fora de controle. Nós, em êxtase.
 Há noites nas quais não durmo, pensando em você. aspirando cada memória, vivendo delas. Vivendo de vontades e sede de você. Se soubesses o quanto desejo beijar os seus lábios, subir sutilmente até o seu umbigo e enquanto minhas mãos descobrem o teu corpo, doce e ardente, beijo sua boca. Te gravo em mim. Me gravo em você. Nos amamos como ninguém nessa terra saberia amar alguém. Nos conhecemos em tudo. Você é o meu oásis em meio ao deserto e as vezes nem sei se é real ou apenas miragem. Sempre que meus olhos se fecham, você retorna e me tem. Cada parte de mim, cada pedacinho te pertence.
Eu sinto falta da delicadeza do teu toque, amor. Sinto falta do teu sorriso que tem o dom de roubar meu coração, minha mente e tudo que há em mim. Nunca pertenci a alguém da forma que pertenço a você. Nunca desejei alguém com a mesma euforia que desejo você. Nossas almas se conectam e fazem amor enquanto estamos distantes. Não há tempo, saudade ou quilômetros. Não há nada. Só "nós" existimos. Nosso mundo somos nós quem construímos.

 Essa é a minha maneira desesperada de dizer que eu te amo, com todos os meus deslizes, quedas e feridas que lhe causo... eu te amo.