Eduarda,

terça-feira, 18 de novembro de 2014

não sei como começar uma carta pra você sendo que você nunca vai ler, mas existem tantas coisas que eu queria que você soubesse... Tantas coisas que eu queria ter a chance de dizer. Acho que escrevo agora pelo meu direito de resposta que foi negado pela vida e, infelizmente, por você; escrevo pra mim mesmo e não sei, definitivamente, o que fazer com essas palavras.
Não sei descrever isso que estou sentindo agora. Queria que você pudesse me ver. Eduarda, você deveria saber que eu nunca poderia ser capaz de te odiar. Nem quando você me disse aquelas coisas tão terríveis eu te odiei. As coisas só não fizeram sentido.
Eu queria passar a vida do seu lado, não entendi como isso podia ser tão assustador pra você. E agora tudo faz sentido. Fico triste em saber que não estive do seu lado por esse tempo, você foi sempre tão forte e tão teimosa. Sua força sempre foi algo que eu admirei. E sua teimosia algo que eu detestei, e é justamente isso o que me irrita agora.
Duda, você fez tudo errado, meu amor. Eu queria estar com você nessa hora. Teria vivido os cinco anos mais felizes se tivesse vivido com você. Eu nem sei dizer como minha vida poderia estar diferente agora... Eu não queria que você tivesse passado por isso tudo sozinha.
Eu preciso dizer que nunca acreditei naquelas coisas que você disse... Foi um dia miserável aquele que era o mais importante da minha vida. Eu me senti o homem mais idiota e vazio. Cheguei em casa naquele dia e tomei um porre. Passei o mês inteiro tentando encontrar justificativa pra tudo. Tentei te procurar tantas vezes e quando você só me deu silêncio como resposta, eu desisti. Tinha meu orgulho e achava que você realmente não me queria mais. Eu via nos seus olhos o quanto me amava, mas preferi acreditar no que sua boca me dizia.
Hoje vejo o quanto fui tolo. Mas o que fazer? Eu não tinha o direito de quebrar o teu silêncio e invadir o teu espaço. Por isso me calei.
Passei meses e até os anos seguintes considerando uma visita sua, e confesso que a visita da tua mãe me pegou de surpresa. Cinco anos se passaram e eu não esperava mais nada, menos ainda a visita da sua mãe. Foi só vê-la pra saber que algo estava mal. E tudo estava mal. Peguei os embrulhos dela que estava com os olhos vermelhos, dei um abraço e ela só pediu que eu lesse tudo e a procurasse no final.
Na mesma hora subi pro apartamento e abri a primeira carta, a que estava separada das demais. Só consegui ler ela. E a minha vida nunca mais foi a mesma depois dali. Precisei de um tempo pra conter a emoção de sentir teu cheiro, de reviver todos os dois anos em segundos. De aceitar teu fim tão trágico. E o meu recomeço, já que eu tinha um filho e nunca tinha sido pai.
Eu não sei dizer, Eduarda, como estava a minha vida. Eu a vivia da maneira que achava bem. Saía com os amigos, alguns relacionamentos, nada sério. Emprego, casa. Rotina. Meio vazia, mas confortável.
Sua carta me arrancou um pedaço, mas também me permitiu recomeçar.
Obrigada por mesmo tarde ter me respondido... Eu ainda não li as demais cartas, essas que você passou escrevendo sem me enviar. E não sei quando vou ler, mas pretendo demorar bastante, quero de alguma forma fazer esses momentos durarem. Eu nem sei se estou pronto pra isso.
Eu não estava pronto pra aceitar o seu fim, mas é assim que são as coisas, não é? A vida é assim.
Quando tive coragem de sair quando terminei de ler a carta, tomei um banho e fui atrás da sua mãe. Ajudei a ela com as coisas que precisavam ser resolvidas... Fiz as coisas meio que mecanicamente. Tive a ajuda do nosso amigo João. Não tinha cabeça pra nada.
Até quando as coisas são terríveis, você consegue me surpreender... No meio dessa tristeza toda, ter visto aqueles olhos do moleque... Samuel, você o chamou, como é lindo. Ele tem teus olhos e o meu sorriso. Como pode ele ser tão a nossa cara assim? Quero ser o melhor pai do mundo. Queria tanto que tu pudesse ver tudo isso, Duda. Queria tanto que tudo tivesse sido diferente...
As coisas estão tão novas agora. A minha vida não está vazia mais. Você faz falta, como sempre fez, mas parece que alguma coisa nos liga agora. E eu tenho certeza que vem do Samuel. Parece que você está aqui o tempo todo, Eduarda. E fique, por favor.

Existem coisas que não couberam aqui. O meu amor não cabe aqui. Eu queria te enviar uma carta pra contar cada detalhe do nosso filho, queria te descrever exatamente cada sentimento que tenho, cada pedaço de mim deseja você inteira, mas eu sei que agora, de onde você tá, com certeza não precisa de nenhuma descrição... Eu vou encerrar isso aqui.
Espero ser um bom pai e que você me aprove.
Eduarda... eu queria te dizer mais uma vez: eu te amo.

Com amor, 
Samuel.

em resposta à "Para Sempre Sua" http://anotherletterforyou.blogspot.com.br/2012/04/para-sempre-sua.html.

gratidão.

Quando você chegou, a poesia veio também. Você trouxe calor nos olhos e sorriso poético no canto dos lábios. Quando você chegou, as estações fizeram mais sentido. A graça transbordou.
Você chegou e me regou as flores que existiam aqui.
Você chegou. E tudo o mais me sorriu.

Há uma luz que nunca se apaga

domingo, 9 de novembro de 2014

Não sei como te chamar, não quero usar teu nome aqui porque eu nunca te chamei pelo teu nome. Em contrapartida já não me sinto íntima pra te chamar pelo apelido.
Uma das piores coisas em ver alguém partir é não saber quando esse alguém vai voltar e se ele vai voltar. Já ficou clichê sentir sua falta. Eu perdi as contas de quantas pessoas já me ouviram falar a seu respeito, mas nunca é suficiente. Eu falo de você como se em algum momento essa coisa aqui dentro fosse passar, mas nunca passa. Falo de você como se falar fosse te trazer de volta, mas nunca traz. Não vai trazer. Sabemos que essa é mais uma carta que você nem vai ler, mas como esse fiapo de esperança estúpida dentro de mim nunca morre, continuo a escrever.
Acontece que sempre me vejo tanto em você! É aquela coisa saudosista de dizer que você é a continuação do que eu sou ou vice-versa. Não tenho mais tempo pra saudosismo, eu sei. E você não tem mais paciência, eu sei. Sabemos. Essa é a última vez, prometo. (E provavelmente essa é uma daquelas promessas que vou quebrar sem nem protelar.)

Desculpa por ser tão clichê, mais uma vez. Sei que não gosta. Desculpa por não estar usando xadrez, eu sei o quanto você gosta. Desculpa por entupir os salgados de ketchup, sei que você olha com cara feia mesmo dizendo que "gosta de ketchup", você nunca coloca em nada e torce o nariz se colocarem no seu lanche!
Desculpa por nunca mais ter devolvido seu CD favorito. É que manter isso aqui é como manter parte sua comigo.
Nesse momento você deve estar tomando absinto português e vendo coisas que nem existem - ou talvez existam em uma outra dimensão -, isso se não estiver tocando baixo, o que também é provável. Mas se estiver bebendo, sei que exatamente daqui uma hora você vai sentir vontade de voar, vai chorar. Vai chorar muito. Eu me pergunto pra quem você liga agora quando chora. Me pergunto se encontrou outra pessoa pra segurar tua mão e voar sem direção. Desculpa por desejar tanto que você não tenha ninguém agora já que não está aqui comigo. Não aprendi a te dividir, não aprendi a deixar ir aquilo que nunca me pertenceu. É que aquele dia você me beijou e eu esqueci de todo o resto do mundo. Eu decorei os teus lábios. Céus! EU DECOREI OS TEUS LÁBIOS. Isso me faz sentir mais louca do que o comum. A diferença é que quando você estava aqui comigo, eu nunca era louca. Aquilo era convicto.

Quão patético é chorar ouvindo The Smiths e lembrar do seu abraço? Como me desfaço disso? Você me prometeu cinquenta anos de conversas intermináveis e hoje não responde nem a um "oi" meu.

Eu nem ia escrever essa carta. É que eu vi uma pessoa devorando um sanduíche naquela lanchonete que frequentávamos e era exatamente o seu jeito de mastigar as coisas. Era engraçado. Eu resolvi escrever isso porque me fizeram uma pergunta, eu fiquei tímida e mudei de assunto imediatamente. Eu fiz aquilo que você fazia de ficar um seis segundos em silêncio olhando pra baixo e mudar de assunto, ainda olhando pra baixo. Isso sempre foi coisa mais sua do que minha. Todas as minhas atitudes sempre foram mais suas do que minhas.

Sinto sua falta. Volta um dia, tá? Nem que seja pra me cobrar teu CD. Tô com saudade da sua voz.

Espero que esteja bem.
Com amor,
A menina da camiseta do prisma.