O fim

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Ela gostava de meias de dedinhos, gostava de creme de avelã e de cappuccino. Ela gostava de conversar até amanhecer e de tirar cochilos a tarde.
Gostava de arte, de Van Gogh e Salvador Dali. Gostava de Monet ocasionalmente.
Ela gostava de tardes e noites chuvosas. Amava a chuva. Amava andar na chuva. Amava dormir ouvindo a chuva. Gostava do céu de tempestade, dos relâmpagos clareando a cidade.
Ela gostava de romances, gostava de surpresas, gostava de flores. Gostava de corações, cartas e cartões. Gostava de filhotes. Gostava de viagens, queria ser comissária de bordo as vezes mas nunca realmente acreditou ter porte pra isso. O que ela queria mesmo era ser médica. Ou cantora. Talvez pianista. Não era boa em nenhuma dessas coisas.
Queria tocar violão na praia a beira do mar. Queria ter um amor intenso de filme, três filhos, dois cães, uma calopsita e uma casa com jardim.
Ao mesmo tempo queria fazer um mochilão mundo afora, sem previsão de volta.
Roía as unhas, fazia pequenos cortes na pele e se escondia em sua ira. As vezes gritava. As vezes preferia o silêncio.
Não era politicamente correta, não era muito lícita, o errado a atraía e ela seguia vez por outra. Em breves momentos de loucura, ela optava por fazer o que era "certo".  Era constantemente chamada de doente. Não era nada além de incompreendida, eu diria. Ela era sentimento e agia com sentimento. Deixava o lado racional pra quando a formalidade se fizesse necessária. Era insanamente apaixonada por aquele olhar azul acinzentado que acompanhava um belo sorriso com covinhas.
Ela gostava de subir em árvores. De pular poças d'água, de ler e escrever poesias.
Ela gostava de milk-shake de Ovomaltine.
Gostava de pisar em folhas secas.
Gostava de contar estrelas.
Gostava de fazer planos mesmo sabendo que a maioria era utopia.
Ouvia as sinfonias tristes de Beethoven e qualquer clássico de chorar. Ouvia Pink Floyd, Strokes, Nirvana, Guns, The Doors, todo tipo de barulho. Era toda Rock 'N' Roll, até teve uma fase na qual andava de preto o tempo todo, nunca abriu mão do bom e velho allstar.
Não era uma garota fácil de lidar. Isso precisa ser dito.
Ela tinha coração bobo e se apaixonava rápido pelo que a atraía, porém não sabia amar.

Nunca soube.

Mas amou! E como amou! O amor consumiu sua energia, sua memória, seus dias, suas companhias, sua alma e seu corpo. O amor consumiu seu tempo e suas forças.
De gente, transformou-se em lágrimas. De lágrimas, virou pó.

Ela sempre soube que não estaria por aqui durante muito tempo, fez questão de SER o quanto pode SER. Entregou-se a tudo que a encantava porque um dia tudo estava destinado a acabar.
E então, assim como esse texto, subitamente ela partiu.

Sem volta.

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