A cada acorde, uma lembrança. A cada lembrança, uma lágrima. E um sorriso. Assim mesmo, tudo junto, fora de ordem, insano, tal como costumávamos ser. Ela era minha e eu era dela e não haveria - nem em um milhão de anos - nada que mudaria isso. Tempo, espaço, circunstância ou distância eram nulos quando o assunto era o que seu sorriso me causava. Meu Deus. Por Deus. Por todos os deuses, que sorriso era aquele?
Como quem sopra vida sobre um corpo morto, ela soprava inspiração à alma borrada de poeta. Ao fim do disco, meu travesseiro estava molhado, meu peito apertava. O devaneio acabara. Por que esperar mais? Peguei a mesma mochila. O que levar? Dane-se a mochila.
Coloquei a carteira no bolso, segui viagem. Levava comigo apenas uma das cópias das chaves que ela havia deixado comigo. Comprei rosas na rodoviária. Ao chegar, percebi que a casa estava vazia. Respirei fundo. Decidi entrar. Fui até seu quarto, as coisas não estavam no mesmo lugar, mas seu cheiro dizia inegavelmente que ela estivera ali há pouco. Espalhei as rosas, da entrada da casa até sua cama, onde deixei uma pequena carta escrita lá mesmo. Esperei por algumas horas na sala. Nada. Ninguém.
Roubei um pacote de biscoito no armário da cozinha, dei um sorriso idiota e chamei um táxi. Ela estava cruzando a rua quando entrei no carro, não me viu. Meu coração disparou, já era noite. Olhei para o céu, sua estrela sorriu me sorriu. Devolvi o sorriso. Era hora de ir.