Tentar

terça-feira, 20 de março de 2018

Eu queria ter conseguido cuidar de você. Eu queria ter conseguido cuidar de mim. Queria ter evitado a primeira briga. Queria não viver me perguntando se errei em começar esse relacionamento, se meti os pés pelas mãos, se realmente estava destinada a ficar com você ou se burlei o destino. Se talvez eu só não estivesse sozinha demais, sem propósitos e doida pra te proteger, pra tirar a tristeza de você.

Não sei nem se devo usar o termo "dor" pra isso. É uma sensação de peito em fogo, de mundo girando rápido, boca seca e coração prestes a sair do peito, palpitando como se o tudo estivesse explodindo em câmera lenta. Dia após dia o "tentar" me consome. A angústia de não saber o que fazer e quando saber, simplesmente não conseguir ou não poder, ou ser tarde a ponto de você já não se importar. A frequencia com a qual isso acontece é assustadora. A sensação de ser seu maior peso, seu maior erro, seu maior arrependimento é arrebatadora.

 Sobreviver é desgastante quando a esperança sequer existe. Eu descreveria a esperança em nós como uma vela de aniversário daquelas que assopram, ela apaga e daí volta a começar a acender, entretanto antes que consiga acender de verdade, assopram outra vez. E se assoprar não for o suficiente pra apagar a pequena formação de chama, alguém rindo apaga com os próprios dedos, se gabando por não ter medo do fogo.
 Há dias em que parece que o amor é real e mais forte que tudo. E há dias em que questionamos a existência qualquer sentimento além da mágoa e da ira. Eu consigo me sentir rasgar ao meio toda vez que preciso escolher entre o que é "menos pior" ou o que "machuca menos", porque na prática qualquer coisa que fizermos, vai machucar.


 Quebrados, não importa o quanto, nós continuamos. Sim, nós prosseguimos porque lá no fundo nenhum de nós quer realmente soltar a mão um do outro. Lá no fundo, por baixo de todas as tristezas, ainda queremos isso. Ou ao menos acreditamos que queremos um ao outro. Nós realmente queremos? Quem de nós tem força suficiente pra desistir? E quem de nós dois tem força suficiente pra tentar de novo ou recomeçar? Estamos estagnados. Estacionados no nosso fracasso. Eu sei, é duro, é pesado, mas entramos no cômodo da nossa desgraça amorosa, procuramos o sofá menos desconfortável e nos jogamos nele. Estamos na nossa zona de sofrimento, afundando cada vez mais apenas apoiados em um sofá velho e gasto. Com os olhos fechados por medo de ver figuras se projetando na escuridão das nossas mentes. Apenas afundando por temer o que vem depois do fim. Ou do recomeço. Estamos em uma espécie de purgatório, sem prazo ou previsão de saída.

 Mas eu continuo aqui, como uma pequena vela que tenta acender, até o dia em que eu me torne apenas fumaça e desapareça no ar. No fim, talvez ainda nos amemos. Ou talvez nunca tenhamos descoberto que diabos que o amor é. Somos como duas crianças perdidas e cansadas no fim do dia, exaustas de procurar o lar, apenas buscando um lugarzinho qualquer pra apoiar a cabeça e receber um cafuné. Um "vai passar". Uma resposta. Um caminho. Os olhos pesam por tanto chorar. Suspiramos. Voltamos a agir como se nada tivesse acontecido.... afinal, aconteceu?